segunda-feira, 21 de maio de 2012

Famílias que permanecem na Vila dos Pescadores de Jaraguá cobram políticas públicas



Associação recebe apoio de diversas organizações na permanência e nova etapa de luta pelo desenvolvimento local

Por Rafael Soriano

Esta semana será feita a demolição das casas daquelas famílias que assinaram a proposta da Prefeitura de Maceió para deixar a Vila dos Pescadores do Jaraguá e se realocar em apartamentos na praia do Sobral. As cerca de 40 famílias que permanecem na Vila farão, mobilizadas, o acompanhamento da ação das máquinas, ao passo que continuam a pressão sobre o poder público pela consolidação da Vila no local, com habitação e urbanização.
As famílias, organizadas na Associação de Moradores e Amigos de Jaraguá (Amajar), estão asseguradas por intervenção do Ministério Público Federal, que garante a não remoção da área (pertencente à União) daquelas famílias que não o desejarem. Com a relação já consolidada com outros entes públicos, como a Universidade Federal de Alagoas, as famílias portam há anos um projeto urbanístico que os contempla sem que sejam distanciadas de sua fonte de renda.
Em encontro há duas semanas na Barra de Santo Antônio, moradores e apoiadores da Vila ouviram do próprio Ministro da Pesca o compromisso com o reconhecimento da Vila como uma Colônia de Pescadores e de sua importância para a produção de pescado e artesanato. O gestor se comprometeu com a inclusão das famílias nos programas do Ministério, além da resolução das demandas sociais e de infraestrutura.
As famílias que não aceitam o projeto higienista da Prefeitura de Maceió, que deseja transformar a área numa marina turística, realizam uma resistência baseada na tradição e na cultural local. A história da Vila, com quase um século, se confunde com a própria história de desenvolvimento da Capital. O território é, ainda, atendido pelo Governo Federal, que lá mantém um Ponto de Cultura e um Ponto de Memória, ligados respectivamente ao Minc e ao IPHAN.
Pelo Porto de Maceió, vizinho à Vila dos Pescadores do Jaraguá, passa a fonte de ambas, riqueza e miséria em Alagoas: a exportação da commodity cana-de-açúcar que passa a compor as especulações financeiras internacionais concorre em Jaraguá com o produto final de seu processamento, a desigualdade social. O processo histórico de favelização das cidades se soma à ineficiência dos poderes constituídos em atender as necessidades mais básicas da população.
Quando entraves para os projetos de “desenvolvimento” das elites, as famílias pobres são rapidamente vistas e têm toda atenção do Poder Público: para policiamento e remoção. Mas com apoio de diversas organizações da sociedade, movimentos populares e sociais, as famílias ancoradas na Amajar não somente resistem como deixam claro que têm uma alternativa de desenvolvimento para aquele território, com a construção de residências, estaleiro para os artesãos e acesso às políticas públicas a que têm direito.

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